revoluciomnibus da perspectiva de Notícias do Tiroteio

   trechos do capítulo

 

   TRISTERESINA de

   

 

      ciberzine   & narrativas de james anhanguera

 

     TRISTERESINA

     

              BANGUE-BANGUE NA TERRA DO SOL                                           ESTRELANDO

        CIÇO BRANCO NO PAPEL DE CISKO KID

 

 ...

 

  A tradição de violência nas mais altas esferas do poder político e econômico no Nordeste reproduziu-se da forma bombástica a nível nacional, em pleno governo federal, na chamada República de Alagoas-Casa da Dinda, com a oligarquia dos Collor de Melo, que nem bem nasceu e pereceu, mais o clã dos irmãos Farias, réplica grotesca dos irmãos cara-de-pau (The Blues Brothers, dos manos Belushi) mas com um toque a mais de humorismo caricatural que era a própria semelhança física e a mesma imagem patusca dos irmãos.

A Casa da Dinda é uma réplica da casa-grande de neocoronel enquanto Maceió ao longo da década de 1990 torna-se a capital brasileira da violência policial e política.

 

Natural de Alagoas o cineasta Carlos Diegues traduzia há alguns anos o que via e sentia havia mais de meio século:

No Brasil há uma reprodução da economia do engenho do açúcar do século passado. São quatro ou cinco famílias que comandam as mentes de 150 milhões de brasileiros das varandas de suas casas-grandes, que são as nossas mentes.

Pior que isso é que com o escândalo do presidente ampliou-se para uma escala quase continental uma prática decorrente dessa situação que até então se mantivera mais ou menos encoberta sob o manto negligenciador de etiquetas arquetípicas do mandonismo no Nordeste como cultura escravocrata, coronelismo e cangaço, e que se resume à bandidagem mais vulgar.

  

Após a queda de Collor, como de hábito em qualquer história de máfia, a bruxa continuou a rondar a República de Alagoas e o clã PC Farias, com a morte da rainha-mãe Leda Collor por limite de idade, da mulher de PC, Elma Farias, de ataque cardíaco, de Pedro Collor – o benjamim denunciante do esquema PC – e finalmente do próprio PC Farias em junho de 1996.

PC tinha já sido condenado a sete anos de prisão por crime de falsidade ideológica e dizia-se que à época do seu esfriamento estavam em curso ou em fase de instrução 156 processos contra ele.

O tesoureiro da campanha à presidência de Collor de Melo, que desaparecera depois de condenação, reapareceu ao vivo de Londres no Jornal Nacional da Rede Globo e foi preso em Bangkok, de onde voltou para a cadeia antes de se beneficiar de um habeas corpus e ser morto com a namorada, Susana Marcolino, numa noite de sábado para domingo em sua villa no bairro das Mangabeiras em Maceió.

Por puro descaramento os investigadores da polícia deram ênfase à tese de crime passional seguido de suicídio por parte de Susana.

PC vivia cercado por cinco seguranças – quatro deles gorilas da PM em cena explícita de bico.

 

Logo se descobre que investigadores destruíram eventuais provas de crime durante a perícia que durou apenas duas horas. O deputado-irmão de PC Augusto Farias apressou-se em mandar incinerar o colchão e móveis do quarto. A arma que matou PC era da PM e teve 15 donos em menos de um ano.

Duas dezenas de indícios jogaram por terra a hipótese de crime passional.

Terá sido sim queima de arquivo ou briga na divisão de um butim dos mais gordos. A essa altura o seu patrimônio, que para a Receita Federal era de apenas US$30 milhões, poderia ascender a um bilhão de dólares, segundo a Justiça.

O tesoureiro chefiou um esquema que entre 1990-1992 cobrava propinas por tráfico de influência e que ruiu com denúncias de Pedro Collor, supostamente por despeito – assédio do irmão mais velho à sua mulher, que pela bela cara, a gracinha y otras cositas rapidamente se transformaria num fenômeno de mídia e secretária de Turismo das Alagoa.

   O caso PC tem todos os ingredientes de uma história barata de clã mafioso à italiana. Tratando-se de Brasil chegou-se a pedir interpretações do pastelão a noveleiros.

 

         Collor voltou a Brasília como senador eleito em 2007.

 

 ...

 

 

Em Alagoas faz-se justiça com as próprias mãos desde que há quase 500 anos o bispo Sardinha foi parar na panela dos caetés - desdenhou o então governador Geraldo Bulhões, que por alturas do esfriamento de PC Farias protagonizava um terrir movie de desmando e incompetência que levou seu estado ao caos administrativo e policial.

A crise alagoana dos anos 1990 teve aspectos de uma tragédia populista nordestina emulada pela oligarquia da cana, habitual financiadora de políticos.

Quase metade dos trabalhadores em Alagoas ganhava até 40% de um salário mínimo, que era de R$100,00.

O índice de mortalidade infantil era de 80 em mil em 1997 – a mais alta taxa do país.

Por ocasião da morte de PC Farias o telefone do IML de Maceió estava cortado por falta de pagamento.

Preocupado com o caixa da campanha presidencial de 1989 Collor, cuja fama como caçador de marajás do funcionalismo público alagoano já dera a volta ao mundo, fez acordo com usineiros de cana dando-lhes créditos fiscais sob o pretexto de ressarcimento por cobranças indevidas de impostos – um dos mais monumentais logros da história do país, segundo a imprensa da época.

Enquanto isso a economia canavieira no Nordeste e alhures continua baseada em esquemas do regime de plantation, com acúmulo de capital via isenções tributárias, dinheiro barato e calote nos bancos oficiais. Empréstimos milionários jamais pagos sustentam as usinas de São Paulo a Alagoas.

Com Bulhões no poder e Collor já afastado dele e em Miami os gastos com o funcionalismo em Alagoas superavam a arrecadação estadual em 40% mas faltavam médicos nos hospitais. Ao longo de um século e meio não se registrou um caso de cólera mas ela voltou e matou 330 pessoas em 1996, quando só 8% da população tinham acesso à rede de esgoto e só 50% a água tratada.

Dados de 1993 revelavam que em mais de três quartos dos 600 assassinatos cometidos em Alagoas no ano anterior houve a participação comprovada de 850 policiais militares, mas apenas 120 foram processados e só 30 julgados e condenados. Entre as vítimas, trabalhadores e líderes rurais, políticos, religiosos, advogados, profissionais liberais, policiais e quatro delegados.

A Polícia Militar estava em conflito aberto com a Polícia Civil, com vítimas fatais dos dois lados. A PM transformara-se em central do crime de aluguel através de esquadrões da morte ligados ao sindicato do crime, que inclui fazendeiros, políticos e pistoleiros do interior.

O seu comandante era acusado nomeadamente de pôr efetivos policiais a serviço de empresários e políticos aliados do governador Bulhões, entre eles PC Farias.

Filhos e a mulher do governador, Denilma, envolviam-se com frequência em confusões que terminavam em delegacias. Denilma respondia a três inquéritos da Polícia Federal, um deles por exibir na TV uma pistola importada de uso proibido para quem não tinha licença de porte de arma.

Seus filhos foram acusados de desvios de verbas públicas e desacato à autoridade após episódios de troca de tiros entre irmãos e namoradas.

 

       a violência nos campos do Brasil é um dos temas em foco na série revoluciomnibus.com  A Fome no Mundo e os Canibais, acessível a partir do mapa do site no final desta página ou a partir  DAQUI  mesmo 

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       crônica A "Chacina da Candelária" além do sensacionalismo e das declarações de circunstância, de 25 de julho de 1993

 

                                                                      

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